Abro hoje com as férias presentes. Vou colar aqui um ensaio climatérico de dias frios de Agosto:
“ chuva extemporânea e fichas triplas”
O mundo está contra mim.
Parece uma coisa megalómana, sei, mas duvido que não esteja no topo da lista de humanos a enlouquecer, num teste malévolo de sobrevivência aos impropérios da aleatoriedade climatérica.
(depois de já ter escrito o texto e relido o chorrilho, percebo que o primeiro dos sinais de que o mundo se rebelou não é o abaixo mas este: fiz quarenta anos há um mês e não levei anestesia, gaita)
Primeiro: é Agosto, chove e estão 16º centígrados ‘às nuvens’. Estando de férias sobra-me tempo e, tendo em atenção o facto de Midões ter pouca actividade cultural, resolvo pegar na ‘pena’ e debitar verbos. Trouxe o portátil de Lisboa e tudo correria bem, não fosse o facto de faltarem fichas triplas por aqui. Resolvi arriscar a bateria do dito e verborreei, mesmo sabendo que, a faltar a pilha, todo o texto se perderia. Diz o povo que os medos atraem a má sorte (lagarto 3 vezes). Lei de Murphy e pimba. A bateria desta coisa pifou, precisamente no momento em que fiquei satisfeita com o que lia no monitor. Típico de um mundo inssurecto e pernicioso, pouco respeitador do esforço hercúleo investido por mim, na tentativa de organizar palavras com algum sentido.
A ‘Casa do Ribeirinho’, donde escrevo estas linhas, foi construida em meados do século XVIII, pelo meu tetra-avô, Visconde de Midões. Pouco resta das paredes originais e, aquilo que persiste, apresenta-se como ruína eminente. Há uma parte ‘nova’, que data já do final do século XIX, um acrescento à ‘casa-mãe’, mandada construir pelos meus bisavós, resultado de partilhas de heranças mal assimiladas.
Segundo: Casei nesta casa, fez dia este dia quinze dezoito anos. Não cheguei a comemorar a data nessa condição, de casada. Estou há um ano em estado incivil, como qualifica ‘a coisa’ um amigo que me percebe como poucos. Este facto vem só a propósito do significado que esta terra e, particularmente, esta casa solarenga têm para mim. Aqui começa e se ramifica uma árvore genealógica gigantesca, para a qual eu contribuí, orgulhosamente, com três ramitos.
Terceiro: Em Midões não há cyber-cafés. Em Midões há um multibanco, conquista com dois anos e um solavanco enorme no desenvolvimento da aldeia. Nem tudo está perdido.
Há outra coisa em Midões que me faz pensar que a interioridade é coisa do passado: um núcleo da Casa do Sporting Clube de Portugal.
Será que para o ano tenho aqui um cyber-café que me permita partilhar estes escritos com quem me espera do outro lado? Não me admiraria.
Vou dormir...inacreditável. São 23h38’ e não me apetece mais nada que não seja os braços de Morpheu. Coisas!
Que ele me aconchegue e me serene!
*toing...plim...puff
Midões, em 17 de Agosto de 2004
2 comentários:
Para não me deprimir, posto m comment:
Ai que lindo este texto e tão bem escrito...é uma pena eu não conseguir descobrir como raio de posta maizoutro!
:) :) :)
E está ali um erro irritante no texto e eu também não sei corrigir! Lole!
nessas ruinas ha historia, a tua historia e a dos teus ramitos que lhe acrescentas. venera-a, e estaras a edificar-te a ti.
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