...pela estrada de pó, envolvida num calor seco, vejo andando na minha direcção um velhote cambaleante. Quando nos cruzamos, sinto-lhe o cheiro da falta de higiene, tão evidente como a confusão mental que o envolvia. Parei e segurei-lhe a mão, num impulso, reconhecendo a grandeza do gesto tendo em conta que os vómitos eram incontroláveis dada a minha sensibilidade exacerbada aos odores nauseabundos. Mas não hesitei um segundo, amparando-o nos braços, contendo o olfato.
Abracei-o sem uma única palavra. Olhei-o nos olhos, mostrando-lhe que já não se encontrava sozinho, que estava ali e que, vá-se lá saber porquê, me apetecia mimá-lo. E fi-lo. Sentei-me com ele, debaixo duma azinheira sombria, deitando-lhe a cabeça no meu colo. Acariciei-lhe os cabelos enquanto ele, em silêncio, deixava escorrer as lágrimas da surpresa pelo rosto abaixo. Plim, caiu uma na minha mão que lhe amparava o pescoço. Sem sequer me aperceber, lambi-a. Engoli-a e saboreei o momento...verdadeiro amor universal, sem nome nem nada.
O senhor, de repente, fez-me um pedido:
_ mude-me a fralda. Está suja e não consigo fazê-lo sozinho. Faz isso por mim?
Fi-lo. Grande EU! Acho que sou uma pessoa verdadeiramente boa.
1 comentário:
E fi-lo porque qui-lo.
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