Farta:
E não é pelo lado bom do enfartamento generoso, aquele que fica, por exemplo, depois de um delicioso repasto.
Estou fartinha da TV portuguesa.
Da falta de qualidade, dos programas apresentados, da isenção noticiosa enfim, de tudo.
Acreditem ou não, há meses que não sintonizo nenhum dos x canais daqui do burgo.
Acontece que o mais velho costuma passear por lá e, derivado a esse facto, sou por vezes obrigada a televionar algo que, por incrível que pareça, lhe cativa o olho. Respeito o seu espaço e acedo à partilha do único aparelho cá de casa.
Aconteceu há pouco assistir à abertura dum telejornal em que a notícia era: este ano já ardeu uma área correspondente a 7 cidades de Lisboa...ahhhhhhhhhh, orgástico!
Quase tive pena do apresentador que, pouco depois, falava dos direitos adquiridos dos funcionários públicos, representados pelo Tribunal Constitucional, nomeadamente o "direito de confiança".
Rapidamente me pus a pensar nos meus direitos, que são quais, afinal?
A maioria da minha vida contributiva foi dedicada ao sector público, sempre com (ou sem) vínculo precário, por necessidade de preencher horas de trabalho daqueles que, vinculados, haviam de ter de fazer o que eu fazia.
Esta verdade insofismável foi vivida na primeira pessoa portanto, ai de quem se atreva a desmentir-me
O meu dia a dia normal sempre ultrapassou as 7h de que eles se arrogavam. Cheguei muitas vezes a casa sem tempo para o beijo nocturno nos meus três rapazes. Trabalhei no duro, não para assegurar qualquer posto mas sim por brio profissional. Sabia que das minhas análises céleres a pedidos de pagamento por parte de entidades que recorriam aos Fundos Europeus dependiam, de facto, muitos postos de trabalho privado.
E eu, privada no público, cumpria.
Estou desempregada do público, enquanto privada, vai em dois anos.
Tenho no lombo 24 anos de serviço a instituições que me pediram aquilo que lhes dei, mais o tal do brio.
Sobra-me nada.
Houve fogos por cá, que houve.
Se são mais do que no ano passado, são.
Se o TC acha inconstitucional a mobilidade, que ache.
Só não me conformo com esse tal "princípio da Confiança".
É porque sempre confiaram em mim mas, no fim, fui só uma privada desprovida de confiança.
E não sei porquê.
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