terça-feira, fevereiro 22, 2005

Legalização do Aborto

A ideia de referendar a legalização do aborto ainda este ano, por parte do Bloco de Esquerda, como primeira reivindicação após a euforia da 'vitória' aritemética do x3, faz com que me apeteça 'colar' aqui um texto escrito por mim há um par d'anos e que traduz a minha posição quanto ao assunto:

Sou contra o aborto. Sem complacências. Como um dogma de fé, baseado no princípio da sacralização do direito à vida, que é aqui paradigmático. Só admito nesta questão o contra e o a favor, tout court. Tudo o que ultrapasse isto não resiste à análise.

A dificuldade dos argumentos:

Se alguém se dignar a ler o que acabei de escrever e, mais ainda, responder, irão os leitores perceber exactamente onde quero chegar...vão começar a discutir se deve existir penalização jurídica para as mulheres que o fazem (não disse 'praticam', palavra totalmente inapropriada porque induz a ideia de que é coisa de 'dia sim dia não' propositadamente, note-se), depois passarão para a discussão do nº de semanas do embrião/feto e a legitimidade baseada no tempo que decorre entre fecundação e o acto em si, depois falarão em eugenia, ou seja, no direito que assiste a qualquer pai/mãe ede ter um filho perfeitinho, etc, etc.

Quanto à despenalização, a única coisa que faz sentido que me lembro de ter ouvido foi isto:

Uma mãe que rouba comida para o filho faminto, no super-mercado da esquina, deve ser penalizada? Todos respondemos em coro_ claro que não! Deve-se então despenalizar o roubo?

Dr. Gentil Martins dixit, e eu concordo!

Quanto à eugenia, conto-vos aqui um segredo, que fará alguns de vós acordar para uma realidade difícil de suportar: nascer saudável é tudo menos ganhar um passaporte vitalício para o mundo dos ditos normais...acontece que até conheço casos em que, depois de um parto natural associado a um nado-vivo perfeitinho perfeitinho, se sucedem em catadupa situações que, fora do controlo de uma mãe de primeira viagem, terminam com sequelas permanentes para esse bébé, relembro, em tudo perfeitinho à nascença!

Já para não falar daquelas gravidezes perfeitas que terminam em partos de consequências desastrosas!

Desculpem este chorrilho de considerandos mas, se chegaram até aqui, algum interesse o tema vos desperta.

Finalizando, deixo aqui uma situação hipotética mas passível de acontecer, com o fito de vos fazer pensar sobre ela, e só: Imaginem uma mãe que, após uma amniocentese, descobre à 24ª semana (o resultado destes exames demora) estar à espera de um filho portador de trissomia 21, vulgo mongolismo. A lei permite a essa mulher recorrer ao aborto terapêutico até às 'tantas' semanas (penso que 24, não estou segura). Esse exame acarreta riscos, nomeadamente a possibilidade de desencadear um parto prematuro (ignorem por favor a falta de rigor técnico...concentrem-se antes no cerne da questão).
Se tal acontecer, pós exame, o médico que assistirá a grávida, agora parturiente, à chegada de uma qualquer maternidade fará, naturalmente, tudo o que estiver ao seu alcance para levar aquela gravidez a termo, certo? Para quê, pergunto eu? Para ganhar tempo, esperar pelo resultado do exame e se poder chegar à conclusão que, afinal, o bébé esperado vem com defeito e, como tal, não verá nunca chegará a ver a luz do dia porque assim escolherão muitos pais...!

Ou, ainda e no limite, o parto é mesmo desencadeado e a criança nasce, será enfiada numa incubadora, rodeada de todos os cuidados para que se apoie a díficil luta que terá de enfrentar pela sobrevivência, pouco provável. Mas ninguém lhe virará as costas porque a lei não permite, após o nascimento, deixar morrer.

É...só consigo aceitar os absolutamente contra e os absolutamente a favor.

Assuma-se isso e lute-se por aquilo em que se acredita. O resto, são círculos desenhados incessantemente, sem qualquer espécie de saída sensata e com poucas possibilidades de consensos.

Plim.

11 comentários:

Ricardo M. disse...

http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1216616

eu já tava à espera desta :(

Anónimo disse...

Tambem a mim o aborto me provoca uma profunda magoa.
Legal ou ilegal, asseptico ou não é sempre a morte de um ser humano, um crime inominável.

nick

Anónimo disse...

Tambem a mim o aborto me provoca uma profunda magoa.
Legal ou ilegal, asseptico ou não é sempre a morte de um ser humano, um crime inominável.

nick

Anónimo disse...
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