Era pequenina e adorava flores e cores.
(eu)
Pintava sem cessar aqueles livros já desenhados, em que só tinha que pegar na caneta de feltro, no lápis de cor ou no de cêra, e encher os espaços com minúcia, com todo o cuidado para não sair fora e parecer real.
Preenchia tudo, procurava uma arte que achava conseguir só nessa tarefa.
Queria criar as bordas das coisas que nasciam no papel mas, para isso, não havia recebido talento, pensava.
Satisfazia-se assim em animar folhas mortas, cinzentas com vida, acreditava.
No entanto, quando passeava no campo e olhava as cores das flores, meu Deus, aí sim, era a certeza que só há vida assim.
Quando explosões de arco-íris cá em baixo dos pés nos aparecem do nada como prendas divinas e que nós nos esforçamos para não pisar, por não estragar, em vão!
E aí percebia: encher um papel de cor é arte, também.
É a tentativa de dar-lhes a vida que o processo químico lhes tirou quando eram árvore, quando eram um ser vivo como eu e tu, e que até chegar a folha de escrever soa a injusto.
De cada vez que uma criança pega num livro de pintar e o enche das suas tonalidades, escolhidas por si, não está a fazer mais do que a tentar trazer de volta à vida uma simples folha de papel...
Olhando para trás tenho a certeza de que era isso que eu queria: animar os desenhos para dar alma àquilo que imaginava...e dar-lhes a vida de volta!
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